6 de jan. de 2007

Discurso de Salazar aos corpos directivos da União Nacional (1932)

"A Ditadura surgiu contra a desordem nacional. Era um dos expoentes dela o parlamentarismo e a desregrada vida partidária: a nossa realização da democracia foi, sem contestação, lamentável. A culpa era ou do regime parlamentar ou dos seus servidores: quanto mais absolvermos estes, mais culpas encontraremos naquele [...].
O processo da democracia parlamentarista está feito; a sua crise é universal; supõem ainda alguns que esta é passageira e provocada pelas dificuldades igualmente transitórias do presente momento; os restantes crêem que findou para sempre a sua época. A Ditadura Nacional, precursora em mais de um ponto de um largo movimento de renovação política, declarou dissolvidos os partidos; estavam porém neles, pode-se dizer, as maiores forças políticas da Nação. Alguns homens públicos tiveram a intuição do momento e vieram colaborar com a Ditadura; muitos alhearam-se, [...] muitos seguiram clara ou encapotadamente o caminho das conspirações e das revoltas e têm sido sucessivamente reduzidos pelo Exército à impotência. [...]
Nós temos uma doutrina e somos uma força. Como força, compete-nos governar: temos o mandato de uma revolução triunfante, sem oposições e com a consagração do País; como adeptos de uma doutrina, importa-nos ser intransigentes na defesa e na realização dos princípios que a constituem. [...]
Alguns homens dos antigos partidos supõem-se ligados por uma disciplina que, no estado actual da política portuguesa, devo dizer, já nada significa. Independentemente disso, eles não sabem se devem trabalhar com a Ditadura e ingressar na União Nacional: este problema, porém, não pode ser resolvido por nós. A União Nacional vai ser uma espécie de padrão por onde se hajam de aferir a inteligência e o patriotismo dos homens."

Oliveira Salazar, Discursos (1928-34), vol. 1, Coimbra, Coimbra Editora, s.d.



Analise as afirmações de Salazar no quadro da oposição do novo regime à república parlamentar.

Um comentário:

Moura disse...

Documento – Nos finais da ditadura militar, Oliveira Salazar identifica a Primeira República como uma época perturbada, devido ao sistema partidário e ao parlamentarismo, no contexto da crise, porventura definitiva, dos regimes demoliberais, nos anos 20/30. Indicação de que a revolução de 28 de Maio de 1926 e o regime de ditadura que então se iniciou lançaram uma época de renovação, legitimada pela adesão do País; submissão das forças resistentes com o apoio do Exército. Papel fundamental atribuído à União Nacional, considerada matriz da participação dos cidadãos na vida política.


Contraste entre o regime vigente na Primeira República, demoliberal, pluripartidário e
parlamentarista (amplos poderes do Congresso), definido pela Constituição de 1911, e o Estado Novo, que lhe opôs a recusa do liberalismo, o partido único e a sobreposição do Governo ao Parlamento.
Período de dificuldades na vigência da Primeira República, facilitando a ascensão de forças
conservadoras. Consonância destas forças com a generalização, nas décadas de 20 e 30, de regimes
autoritários. Relevância das forças militares na afirmação de um novo sistema político e da actuação de Oliveira Salazar no saneamento financeiro, abrindo caminho à plebiscitação da Constituição, elaborada sem participação democrática.